quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Poesia de Renato Suttana

UM OLHO

I

Um olho
baço,
cego,
e nenhum
pensamento

na noite opaca.
E estar girando
como uma
folha
seca

no vento:
o vento
não é nenhum
pensamento.
Não é

senão
o que sopra
lá fora.
(Seu assobio
nos beirais.)

Um olho
neutro, nulo –
porém cego,
na noite
fria.


II

Vasto
é o círculo
que a noite traça
ao redor
do olho:

e negro
e lento
e impenetrável
por dentro
como um caroço

na treva –
como uma
pedra.
E espesso
mais que o

pensamento
que tenta
atravessá-lo
na
escuridão.
 

Renato Suttana

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Poesia de Artur Gomes

Bolero Blue

beber desse conhac em tua boca
para matar a febre nas entranhas
entre/dentes
indecente é a forma que te como
bebo ou calo
e se não falo quando quero
na balada ou no bolero
não é por falta de desejo
é que a fome desse beijo
furta qualquer outra palavra presa
como caça indefesa
dentro da carne que não sai


Artur Gomes