terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Em processo

os meandros da mente
são intangíveis
inatingíveis
aos não-iniciados

como infinitos abismos
ceus de feéricas luzes

pulsam intensos
feito fótons na noite

como fósseis
em tempos primevos

que sabe eu desperte
desta lucidez insana
e obtenha a resposta.
Ricardo Mainieri

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Torneio verbal


elipse
silêncio que fala
outra linguagem.


pois a palavra tem
parêntesis
reticências.

e preciso penetrar em
suas reentrâncias
imprecisas.

e fundar uma tese de
gozo ou de dor.

Ricardo Mainieri

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Ato



disfarçado trottoir
fetiche
nos cabelos de azeviche.

a pinta nas costas
a liga da cinta
o espartilho.

o espetáculo
dos corpos sob o néon.

o hálito da noite
o scotch
a cantada
a quantia.

o ato
o êxtase
o esperma contido
embalado em látex.

o fim
enfim.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Blood Mary



Blood
d
e
s
c
e
 por entre as pernas
da blondie.

Inesperadamente.

A face fashion
fake
is dead.

Meu reino
por um OB.


Ricardo Mainieri

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Dreams


sonhos não envelhecem
não se esclerosam

são tecidos de nuvens
costurados com a linha dourada
do sol

apesar da chuva
das chagas
das mágoas

 são sementes
quem sabe um dia
portaberta para a utopia.

Ricardo Mainieri

poema incidental sobre a letra de Clube da esquina 2,
de Milton, Lô e Márcio Borges

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

MERGULHO ABISSAL



Flutuam ilhas
no vasto oceano
(in)consciente.

Flashes

no escuro abissal.

Sinais de terra firme

na inconsistência diária.

Rastros travestidos

que reunidos

 sinalizam sintomas

ou soluções.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Manifesto


Meus versos mínimos
não são para a eternidade.

Aspiram sim à velocidade.

Fast-food de signos
temperado
para leitores sem tempo.

Tampouco anseiam
serem catalogados.

Amalgamados
mal amados
fossilizados.

Espécimes
para dissecação futura.

Pertencem ao tempo de agora
ao momento do hoje
que escoa sem eco.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

RICARDO, DRUMMOND E AS PEDRAS



Ricardo, Drummond e as Pedras - para Ricardo Mainieri

Havia uma cisma
(de medo)
No meio do horizonte.

Enfim,
Me vivia a me perder
Ao longe.

Antes,
Eu vivo vivia
A minha rotina.

Hoje,
Eu me esqueço
Do meu alcance.

sábado, 14 de abril de 2012

ESQUIZOFRÊNICO


Ouço vozes que me penetram dum maluco

Entre a roda do sol e o final do crepúsculo:

Procuro razão santa vez que eu me escuto

De noite acordo e não vejo sequer um vulto.



Circulo por pontes sem um pingo de sono

Terror da balança de que nunca fui dono:

Do imaginário primitivo dos meus sonhos

O caminho da lua sobre becos anônimos.


 
Que fosse então aquela esquina lá do Rio,

Onde os médicos fazem troça do esquizo:

Carrego há tempos a quimera só eu tísico.


 
As conversas nos meus ouvidos me dirigem,

Minha mãe com meu pai renegaram o filho:

Mas hoje vou cantar as vozes que me afligem.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

PROPUSERAM OS ILUMINISTAS CIENTISTAS MODERNOS

Propuseram os iluminados cientistas modernos...

Que a vida traz resultados aleatórios pelo acaso,

Que o sistema complexo não tem origem paterna,

E que os rostos passam pela Terra como dados.


Que a lei de ação e reação determina sua falha,

Que ruído microscópico gera resultado instável,

Alma humana içada estocasticamente às favas,

A natureza não se verifica em equações viáveis.



Que o imprevisível sistema não linear é um fato,

Que alteração de dados cerra conclusão aberta,

Que há distorção na margem de erro do resultado,

Propuseram os iluminados cientistas modernos...


Eduardo Ribeiro Toledo

domingo, 4 de março de 2012

A RETIDÃO DA SANIDADE

Sofrendo por hoje a lucidez
As luzes escuras do planeta
O caminho reto do círculo

A menor distância entre dois pontos.

O sol entra amorfo cada vez
Arbustos consomem o exegeta

Psicodélico antes do público
Nosso irmão de pedra ri em cantos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sob um céu duvidoso

Tarde finda
chuva ainda
molha os sentimentos.

Na cidade forasteira
me tenho inteiro.

E preparo a viagem
visando a paisagem
que se debruça adiante.

Na valise
vão meus sonhos
na mente
o que couber do voo.

Em terra firme
quem me espera?

O que esperam?

Nada sei das respostas
e preparo o pouso.


Ricardo Mainieri

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

(Di)verso

Verto
um verso
diverso.

Venço o adverso
e oferto
um (uni)verso
de palavras vagas.

Outro mundo
fecundo
de sementes.

Germinando
colheita poética
tardia.


Ricardo Mainieri

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Baú da felicidade

na casa de cômodos
a luz do teipe banha a miséria
assa a barriga vazia
no barato tonto
da fome

zumbe a cabeça
(Reinaldo passa a Zico)
moleza, nos braços caídos
(que falta faz o Pelé)
nem pra virar o botão

agride a gardênia
do banheiro infecto
logo ao lado do quarto
(quem dera o Garrincha)

lamparina de azeite
sangra o corte de luz
e a tv apagada
(essa a gente ganhava)
bem na última prestação


Tárik de Souza, do livro Autópsia em corpo vivo, L & PM Editores,
Porto Alegre, 1979

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

METAOFÍCIO

Para Ezra Pound



No papel, para o deleite de falar,
 
Sobre coisas, circunstâncias e sujeitos.
 

Na cabeça, desgoverno sem pensar,
 
O valor, signo e potência, preconceitos.
 
 
Escrever, um esquecer o conhecer,
 
Raciocínio, da latência do saber.



Escrever, movimentar um ordinário,

Descrever, condensação do imaginário.



Escrever, composição de melodia,

Semitons, a partitura da eufonia.

Hipertensão


Bordar idéias
beber espanto
ponto a ponto
com passo lento.

Pulsa destino
desatino
navega mente
semente louca.

Conversa voa
o tempo escoa
dor me abraça.

Passadas tensas
chagas imensas
os véus desabam.

Agora.

Corre
sofre
salta
falta
o chão.

A vida
disse
não.


Ricardo Mainieri

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

ARTERÓTICA


A
AR
ATO
ARME
TRAME
ARAME
ARREMEDO

ARAR
ARTE
ARDE
ARTE
AMAR
ARTE

ARTEFATO
ARTESÃO
TESÃO
ARTE
FATO
FALO
ALÔ
AR
A

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

GRITO

 
Grito não tem motivo


Grito sem ter sentido.


Ato e circunstâncias,


Esperado rompante,


Rubor de cor que calcina.



Grito de melindre passado,


Grito de máscara pendente.


Renegue ou prossiga,


A estética e a lascívia,


Louvor e dor que fascina.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ferida

Aberta fenda
na camada de ozônio

indefesa

alerta a mente
a vida é uma zona

polu(i)ção
noturna & diurna
de resíduos terminais.


Ricardo Mainieri