sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

(Di)verso

Verto
um verso
diverso.

Venço o adverso
e oferto
um (uni)verso
de palavras vagas.

Outro mundo
fecundo
de sementes.

Germinando
colheita poética
tardia.


Ricardo Mainieri

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Baú da felicidade

na casa de cômodos
a luz do teipe banha a miséria
assa a barriga vazia
no barato tonto
da fome

zumbe a cabeça
(Reinaldo passa a Zico)
moleza, nos braços caídos
(que falta faz o Pelé)
nem pra virar o botão

agride a gardênia
do banheiro infecto
logo ao lado do quarto
(quem dera o Garrincha)

lamparina de azeite
sangra o corte de luz
e a tv apagada
(essa a gente ganhava)
bem na última prestação


Tárik de Souza, do livro Autópsia em corpo vivo, L & PM Editores,
Porto Alegre, 1979

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

METAOFÍCIO

Para Ezra Pound



No papel, para o deleite de falar,
 
Sobre coisas, circunstâncias e sujeitos.
 

Na cabeça, desgoverno sem pensar,
 
O valor, signo e potência, preconceitos.
 
 
Escrever, um esquecer o conhecer,
 
Raciocínio, da latência do saber.



Escrever, movimentar um ordinário,

Descrever, condensação do imaginário.



Escrever, composição de melodia,

Semitons, a partitura da eufonia.

Hipertensão


Bordar idéias
beber espanto
ponto a ponto
com passo lento.

Pulsa destino
desatino
navega mente
semente louca.

Conversa voa
o tempo escoa
dor me abraça.

Passadas tensas
chagas imensas
os véus desabam.

Agora.

Corre
sofre
salta
falta
o chão.

A vida
disse
não.


Ricardo Mainieri

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

ARTERÓTICA


A
AR
ATO
ARME
TRAME
ARAME
ARREMEDO

ARAR
ARTE
ARDE
ARTE
AMAR
ARTE

ARTEFATO
ARTESÃO
TESÃO
ARTE
FATO
FALO
ALÔ
AR
A

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

GRITO

 
Grito não tem motivo


Grito sem ter sentido.


Ato e circunstâncias,


Esperado rompante,


Rubor de cor que calcina.



Grito de melindre passado,


Grito de máscara pendente.


Renegue ou prossiga,


A estética e a lascívia,


Louvor e dor que fascina.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ferida

Aberta fenda
na camada de ozônio

indefesa

alerta a mente
a vida é uma zona

polu(i)ção
noturna & diurna
de resíduos terminais.


Ricardo Mainieri