Importuna ao que sob a alma habita,
Desconsidera o que tem ao alcance,
O sono dos justos, católicos e amantes.
Em cada agir não sentimos sonolência:
O sonho nos agride tal qual a violência,
Que imprime ao raciocínio a confusão,
Que embota os sentidos e turva a visão.
Ao dormir aquilo que vivo o que sonho,
Sinto minha identidade fugaz e atônita.
E entre o que penso e o que me pareço,
Sobram as trepadeiras no muro espesso.
Quando, então, chega a hora de voltar,
Já não vejo mais corpo, tempo e lugar.
Eduardo Ribeiro
Eduardo, Fernando Pessoa tem alguns poemas que falam deste momento entre o sono e o sonho.Um deles:
ResponderEliminarSonho.
Não Sei quem Sou Sonho.
Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Não posso negar que junto com Baudelaire e Murilo Mendes compõem a trinca dos meus sonhos!
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